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Writer's pictureChapada Cultural do Araripe

Quinta rodada do Ciclo de Palestras debate Turismo Responsável e Desenvolvimento Social.

A quinta e derradeira rodada do Ciclo de Palestras da Mostra Internacional de Turismo e Patrimônio Chapada Cultural do Araripe se dedicou a debater o tema Turismo Responsável e Desenvolvimento Social.

A mesa trouxe ao debate experiências que têm se destacado no Litoral Cearense, no Maciço de Baturité e no território da Chapada do Araripe.

O Turismo de Base Comunitária é uma forma de fazer turismo, dando a oportunidade para que a comunidade local seja a protagonista da experiência, recebendo os viajantes em suas casas e organizando atividades para mostrar o dia-a-dia e a cultura dos moradores de forma integrativa.

Entre as premissas dessa forma de fazer turismo, estão a preservação da cultura das comunidades, a preservação e utilização do meio ambiente e seus recursos de forma sustentável e a geração de renda a partir das iniciativas ligadas à economia criativa que promovem a autoestima dos habitantes do território e seu consequente desenvolvimento social, dando a oportunidade para o protagonismo juvenil e a fixação dos povos no seu lugar de origem, criando oportunidades para o sustento e a conservação de suas práticas culturais.

O turismo praticado de forma sustentável e não predatória, é um fator preponderante para a valorização e o reconhecimento de um território como Patrimônio da Humanidade Unesco.

Uma das experiências que tem se destacado nesse contexto é a da Comunidade de Caetanos de Cima - Assentamento Sabiaguaba, no município de Amontada no Ceará, que faz parte Rede Tucum - Rede Cearense de Turismo Comunitário, uma articulação formada, desde 2008, por grupos de comunidades da zona costeira que realizam o turismo comunitário no Ceará.

Ana Lima, habitante da Comunidade de Caetanos de Cima, artesã, agricultora e membro da Coordenação da Rede Tucum desde 2014, apresentou alguns exemplos de como a comunidade a qual pertence lida com essa experiência de Turismo de Base Comunitária, resistindo à especulação imobiliária que visa se apossar do território.

Esse modo de fazer turismo está sendo fundamental para fortalecer a luta pela permanência da comunidade nesse território. “Esse é o resultado de uma luta de muitos, desde os bisavós, que já tinham que lutar por estarem conseguindo resistir nesse território. Há cinquenta anos atrás já existia especulação e a gente vem de uma comunidade guerreira que, inclusive, carrega processos nas costas por defender tanto nosso território, por estamos dizendo que a terra é de quem mora, de quem cuida, de quem planta e quem nela vive”, lembrou Ana.

Em Caetanos de Cima, a comunidade passou a utilizar todos os seus atrativos e potencialidades para a geração de renda. Aos poucos, foram criando estruturas para acomodar os visitantes com parceria e apoio de instituições que prestam assessoria como o Instituto Terra Mar (Fortaleza) e a Associação Caiçara (Icapuí) que contribuíram para a aquisição de fundos rotativos para que a comunidade pudesse investir e começar o trabalho na Rede Tucum.

De acordo com Ana Lima, a comunidade possui uma série de atrativos para visitação como quintais produtivos com horta, criação de animais e biodigestores, além da paisagem natural com praias e dunas e aspectos da cultural local, como os pescadores.

Rosa Martins, membro do Grupo de Trabalho Turismo de Base Comunitária - GT TBC do Maciço de Baturité, também no Ceará, lembra que comunidades como Quilombo Serra do Evaristo, Kanindé de Aratuba, São Roque Mulungu, foram reunidas nesse GT com a participação de instituições de ensino superior como a Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e o Instituto Federal do Ceará (IFCE Campus Guaramiranga) para debates com o objetivo de conhecer os potenciais da região.

Ela destacou que foi preciso organizar uma proposta de turismo comunitário que levasse em conta “a perspectiva da janela que a comunidade abriu para ver o mundo e como seus habitantes compreendem e se relacionam com ele”.

Ela, que é especialista em Movimentos Sociais e Educação Popular pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e consultora autônoma de planejamento e gestão de turismo, lembrou que para a construção do modelo de Turismo Comunitário em seu território, foi muito importante o desenvolvimento de uma visão crítica da sociedade através de conversas, estudos e debates, com participação da comunidade em rodas de conversa, de modo a desenvolver uma consciência sobre as potencialidades dos agentes do território. “É preciso desenvolver uma capacidade crítica para gente transformar a sociedade que não nos aceita porque não respeita a nossa história e a nossa cultura”.

Rosa destacou ainda em sua apresentação que para o desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária é preciso a participação de todas as pessoas envolvidas, sejam crianças, homens, mulheres, anciãos, mestres da cultura para que haja o fortalecimento das identidades. “Todos devem contribuir na construção coletiva da organização comunitária”, disse.

Um ponto importante elencado por Rosa e que se verifica nas demais experiências expostas no 5º Ciclo de Conversas é sobre a importância do Turismo Comunitário como uma ferramenta para afirmação da posse do território das comunidades, em detrimento ao turismo convencional que expulsa os povos locais para as periferias e constroem os grandes hotéis e os resorts. “O Turismo Comunitário dialoga com os princípios que orientam e fortalecem relações solidárias entre homens e mulheres construtores e construtoras de uma sociedade comprometida com a sustentabilidade em seus aspectos políticos, socioculturais, ambientais e econômicos”, reforçou a palestrante.

Junior dos Santos, diretor do Programa de Geração de Renda Familiar da Fundação Casa, em sua apresentação, fez o resgate do princípio da construção do Turismo de Base Comunitária no território da Chapada do Araripe, atrelado ao trabalho realizado pela Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri e os princípios da Arqueologia Social Inclusiva.

Ao tomar conhecimento da Rede Portuguesa de Economia Solidária (Rede PES) ainda na infância, em um evento na Fundação, ele foi estimulado a conhecer de perto aquela realidade e, ao chegar à Europa, percebeu que as pessoas que o receberam traziam em sua trajetória experiências da infância. Já naquele momento, teve a oportunidade de visualizar e entender como “as coisas aconteceriam na Chapada do Araripe” e aproveitou a ocasião para acessar aquelas experiências para aplicar no Turismo Comunitário que seria desenvolvido na Chapada do Araripe. Na oportunidade, Junior passou a fazer parte da Rede PES e de um acordo de colaboração para ampliar as experiências para outros países de língua portuguesa.

A partir daí, passou a se preocupar em aplicar soluções que envolvessem a juventude do seu território e a ter conteúdo para apresentar para os jovens de outros países quando aqui chegassem. A partir dessa perspectiva, surgiu em 2011, a Agência de Turismo Comunitário com o objetivo de oferecer roteiros com uma maior imersão no Cariri, gerar renda para as famílias envolvidas e integrar os visitantes à relação das pessoas com o território que habitam.

Júnior, que é graduado e mestrando em Turismo, apresentou dados atuais referentes as atividades turísticas desenvolvidas pela Agência de Turismo Comunitário. De acordo com esses dados, o Turismo Comunitário envolve um público de 300 famílias e já chegou a movimentar no território da Chapada do Araripe o valor aproximado de R$ 7 milhões de reais desde o início das atividades.

Junior também destacou a importância da permanência das comunidades tradicionais no território para que o Turismo Comunitário se desenvolva. “O turismo comunitário só acontece quando os atores permanecem no território. Eu acredito que com a Arqueologia Social Inclusiva a gente consegue construir a permanência desses jovens a partir da compreensão de que eles têm que o centro do mundo é o lugar onde ele está habitando”, ressaltou.

Ederon Marques, Mestre em Mudança Social e Participação Política e membro da Organização Internacional de Turismo Social (OITS), como participante da mesa, observou como as experiências relatadas têm forte atuação comunitária na sua construção, principalmente com a participação de crianças e jovens nas atividades cotidianas da comunidade.

Para ele, não dá para dissociar as experiências culturais, por exemplo, nos campos da gastronomia e artesanato no desenvolvimento do Turismo Comunitário. Outro ponto importante elencado pelo pesquisador, é que em todas as comunidades há protagonismo feminimo, atuando de forma inspiradora nessas atividades, desde a articulação, a recepção, a criação e manutenção de quintais produtivos e aos projetos artesanais e gastronômicos.

Para Ederon, que também atua na região do Vale do Ribeira desde 1996 no turismo comunitário, em diversas ações ligadas à articulação, promoção e disseminação de práticas socioculturais sustentáveis, como processos participativos e colaborativos de organização comunitária, diversidade cultural, economia solidária e direitos humanos e sociais, o turismo de base comunitária não quer substituir as atividades econômicas principais, mas o foco está na sustentabilidade socioambiental, econômica e cultural das comunidades. “As comunidades mostram que os valores são outros e que a economia é baseada na troca e no intercâmbio comunitário” e destacou como as articulações em rede, a exemplo das citadas durante o 5º Ciclo de Palestras, inspiram várias outras iniciativas.

Outro fator destacado pelo pesquisador é como o êxito de diversos projetos de Turismo de Base Comunitária despertaram a atenção dos pesquisadores acadêmicos, promovendo a aproximação desse público com as comunidades tradicionais, provocada pelo interesse na temática e pela autenticidade dessas comunidades possibilitando que comunitários fossem integrados nesse universo acadêmico. “Hoje temos quilombolas e indígenas doutores (de formação acadêmica) e também os que receberam o título pelo notório saber”, ressaltou.

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