A quarta rodada do Ciclo Matinal de Conversas na Mostra Internacional de Patrimônio e Cultura Chapada Cultural do Araripe, realizada na manhã de domingo, 05 de junho, contou com a participação de Viviana Usubiaga* (Argentina).
Viviana Usubiaga, que atualmente é Diretora Nacional de Gestão do Patrimônio Argentino, apresentou experiências de trabalho relacionadas com patrimônio e a candidatura do Museu Sítio de Memória da antiga ESMA como Patrimônio Mundial Unesco.
A candidatura do Museu do Sítio de Memória da ESMA teve como objetivo dar visibilidade internacional aos crimes contra a humanidade cometidos pela sociedade civil e a ditadura militar na Argentina entre os anos de 1976 e 1983. Na época, conforme o site oficial do governo argentino, funcionava um dos centros clandestinos de detenção, tortura e extermínio da Argentina que manteve cativos cerca de 5.000 homens e mulheres, ativistas políticos e sociais de organizações revolucionárias, trabalhadores, sindicalistas, estudantes, profissionais liberais e religiosos. “Allí nacieron más de 30 niños en situación de cautiverio, se planificaron secuestros, se llevó a cabo un plan de exterminio y asesinatos de manera sistemática y se cometieron crímenes contra la humanidad”, destaca o site.
O Museu do Sítio de Memória, que tem como lema “Nunca más”, atualmente é um espaço que guarda a memória de vítimas do regime ditatorial argentino no lugar onde funcionou o Colégio de Guerra Naval e o Cassino dos Oficiais daquele país e que foi usado para o cometimento de crimes contra a humanidade.
Durante sua apresentação, Viviana partilhou duas experiências de trabalho e pontos para se pensar questões relacionadas com o patrimônio e suas relações com a memória ancestral e a cultura original dos povos originários e destacou a importância de uma relação sócio política dos indivíduos a partir da perspectiva de que a diversidade cultural é fator real para a constituição da identidade do povo argentino.
A experiência de Viviana na proposição da candidatura, envolveu diálogo com 06 países diferentes, e denotou a necessidade da habilidade política cotidiana para promover formas de organização com as comunidades envolvidas com os patrimônios, de forma a gerar a conscientização sobre a responsabilidade dessas próprias comunidades em serem as principais defensoras e guardiãs dos territórios e seus patrimônios a partir de uma perspectiva de formação de redes de apoio e desenvolvimento. “É preciso ter em mente que a riqueza não está nos bens que uma pessoa acumula, mas na rede social a que pertence. Pobre era e é considerado aquele que não tem uma comunidade que o abrigue.”
O Museu**
O Museu do Sítio de Memória da ESMA é um monumento histórico nacional, evidência de terrorismo de Estado e evidência judicial em casos de crimes contra a humanidade na Argentina.
Localizado em uma das principais vias de acesso à cidade de Buenos Aires, o prédio do Cassino dos Oficiais era o núcleo repressivo do Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Extermínio.
A conservação do Cassino dos Oficiais é fruto da luta das Organizações de Direitos Humanos há mais de 40 anos. No início, foram eles que denunciaram seu funcionamento ao mundo e depois promoveram todo tipo de ações para preservá-lo.
Em 19 de maio de 2015, após anos de debate e consenso, foi inaugurado o Museu Sítio da Memória da ESMA com uma exposição museográfica permanente. Dado o seu estatuto de prova judicial, a intervenção não alterou a estrutura do edifício. O roteiro do Museu se baseia nos testemunhos que os sobreviventes deram no Julgamento das Juntas Militares em 1985 e nos julgamentos por crimes contra a humanidade reiniciados em 2004.
Hoje o local é um espaço de denúncia do terrorismo de Estado e transmissão de memória. Sua missão é contribuir para conhecer, vivenciar e compreender as violações de direitos humanos cometidas pelo Estado argentino, fomentando um diálogo intra e intergeracional no presente e no futuro.
*Viviane Usubiaga: Doutora em História e Teoria das Artes pela Universidade de Buenos Aires. Técnica de Restauração formada pelo Instituto Universitário Nacional de Artes. Professora na carreira de Artes da Faculdade de Filosofia e Letras da UBA e professora de pós-graduação no Instituto de Estudos Sociais Superiores da Universidade Nacional de San Martín e na Universidade Nacional de Tres de Febrero. Atualmente é Diretora Nacional de Gestão do Patrimônio Argentino.
** Texto retirado do site oficial do museu: museositioesma.gob.ar/el-museo/
Imagens: TV Casa Grande.
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