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Writer's pictureChapada Cultural do Araripe

Instituições Públicas na promoção e preservação das potencialidades do território da Chapada

O segundo dia de Formação de Redes reuniu representantes de instituições e empresas que atuam na Região do Cariri.

Uma forma de aliar trabalhos de conservação, preservação e promoção do território, juntamente às empresas que nele nasceram e crescem, cuja base para a realização e desenvolvimento do trabalho consiste em produtos e serviços aqui demandados.


ONG Aquasis e a preservação do Soldadinho do Araripe

A primeira rodada dos debates da tarde do sábado, 04, abriu espaço para a apresentação de Weber Girão, pesquisador biólogo e sócio da ONG Aquasis que atua pela biologia da conservação, especialmente do pássaro Soldadinho do Araripe.

Weber fez uma breve explanação sobre a atual situação da ave Antilophia Bokermanni, nome científico do Soldadinho do Araripe, que é a única ave endêmica (exclusiva) do Ceará, com registros nos municípios de Missão Velha, Barbalha e Crato. Essa situação peculiar a coloca como uma das cinco espécies da fauna cearense mais ameaçadas de extinção, o que se agrava devido às constantes ameaças ao seu habitat natural, que são os ambientes das encostas, nascentes e levadas d'água da Chapada do Araripe.

O pesquisador destacou que, mesmo diante das ameaças que enfrenta, o Soldadinho é uma espécie forte e tem resistido ao longo dos tempos, apesar dos declínios observados no monitoramento da sua população.


Ações públicas para preservação da espécie

Para a preservação da espécie, enfatiza Weber, faz-se necessária a implementação de políticas públicas que defendam as áreas de incidência do pássaro, a criação de novas e o fortalecimento das Unidades de Conservação já criadas com o objetivo de garantir a sobrevivência do Soldadinho, bem como a criação de um plano de trabalho para essas unidades. “É importante que a unidade de conservação tenha uma organização e funcione adequadamente para deter e reverter o declínio da espécie”.

De acordo com o pesquisador, outra ameaça para a manutenção do Antilophia Bokermanni é o mau uso das levadas de água, lugar que o pássaro usa para sua sobrevivência. No painel de apresentação, foi exibida uma foto de uma construção irregular para represamento e canalização da água dessas levadas para propriedades particulares.

“A nossa história do uso do ambiente, está se perdendo sem que a gente saiba disso e nem tenha a noção da importância da levada e o significado que ela tem para o pássaro que simboliza tanta coisa”.

A criação do Programa Produtor de Água, pela Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato (SAAEC), que reconhece a preservação e recuperação de áreas naturais através um ganho financeiro para proprietários dessas áreas, melhorando a qualidade da água na região, beneficiando a população e contribuindo de forma decisiva para a preservação de espécies da fauna local ameaçadas de extinção, como é o caso do Soldadinho do Araripe, também foi destacada por Weber como uma ação importante neste contexto.

Para Weber, é importante garantir a sobrevivência da espécie Antilophia Bokermanni, que já virou um símbolo de patrimônio e turismo da região, enquanto Soldadinho do Araripe.

“Ainda podemos construir o futuro que queremos. Nós temos Antilophia Bokermanni, tomando banho, nas levadas vivas, existindo. E a gente pode ter ainda um símbolo muito forte, cheio de carinho para receber que é o Soldadinho da Araripe, mas que não passa de uma abstração, de algo da nossa mente. Por que essa entidade que está na nossa mente, não pode ser associada à espécie que está na mata?. O Padre Cícero quando morreu, o símbolo dele ficou mais forte. Se essa espécie for extinta, ela não pode mais ser dissociada da espécie Soldadinho do Araripe. Hoje a gente tem esse poder de decisão. Até quando não se sabe, mas a gente ainda pode mudar essa realidade”, concluiu Weber.


Geopark Araripe promoção e preservação do território

A segunda apresentação da primeira mesa da tarde de sábado, trouxe o Diretor Executivo do Geopark Araripe Unesco, professor Eduardo da Guimarães.

A entidade tem entre seus objetivos definidos de atuação, salvaguardar o patrimônio geológico, natural e cultural do seu território, a partir de estratégias inovadoras, iniciativas e articulações com o poder público, privado e a sociedade organizada, com articulações a respeito das discussões do território e do seu uso sustentável.

Eduardo Guimarães, que além de diretor do Geopark Araripe é professor coordenador de Desenvolvimento Territorial e Geoturismo e membro da Comissão Científica e do Conselho de Desenvolvimento Turístico do Cariri, afirma que no contexto da sustentabilidade, entra a perenidade dos recursos. “É garantir que as próximas gerações, minimamente, tenham acesso ao patrimônio que a gente ainda tem hoje”.

Uma das formas que o Geopark Araripe tem de promover o território é através do turismo sustentável e para isso, o território onde o Geopark está inserido, possui uma Floresta Nacional do Araripe (Flona) com forte representatividade e potencialidades turísticas.

As trilhas naturais, como uma das únicas formas para acessar a natureza, oferecem oportunidade de uso sustentável, relacionado a oferta de ações de turismo no território.

Através de sua vivência pessoal com as trilhas e a natureza da Flona e sua atuação no Geopark Araripe, Eduardo Guimarães, cuja primeira formação é em Educação Física, iniciou a elaboração de um estudo de manejo de impacto de visitação nas trilhas, e com isso, passou a realizar aulas de campo e apresentar peculiaridades dessa natureza para seus alunos.

A pesquisa do professor resultou em uma classificação de alto, médio e baixo nível de impacto do turista no território, o que abriu possibilidades para a observação de eventos de aventura que já existiam e já utilizavam os aspectos naturais da Chapada do Araripe como atrativos na Região do Cariri cearense.

O que acontece é que muitos desses eventos não tem uma concepção sustentável, então eles causam mais danos do que benefícios ao próprio território”, disse Eduardo. “Nós passamos a criar protocolos de como se fazer turismo vinculados à natureza, com uma pegada sustentável de verdade e, com isso, criamos o Circuito Geopark Araripe”.

O Circuito Geopark Araripe realiza eventos de aventura em lugares da Região do Cariri, dentro e fora das áreas de floresta, observando esses protocolos e minimizando os impactos negativos nos lugares onde são realizados, como lixo e agressões ao meio ambiente.

Após a criação do Circuito, já foram registradas a participação de mais de 10 mil atletas, 60 mil espectadores e o impacto financeiro na economia local, com a movimentação de mais de R$ 3 milhões, de acordo com o diretor do Geopark.

“Quando mostro para os meus amigos de Santos, minha terra natal, fotos do território, as pessoas me perguntam: Você não diz que está no sertão? - Esse aí é o meu sertão na concepção do programa Unesco de orgulho de pertencimento local. E o orgulho de pertencimento tem relação com a entrega, com o desejo e não necessariamente com o fato de ter nascido no local. Eu não nasci aqui, mas fui muito bem recebido e todos os dias sinto necessidade de trocar e contribuir com este território tão rico e tão mágico”, concluiu Eduardo Guimarães.










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